O que falta para a construção civil entrar no século XXI?

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Daniela Lopes*

Apesar de representar cerca de 6% do PIB brasileiro e empregar mais de 7 milhões de pessoas, a construção civil ainda opera, em muitos aspectos, como no século passado. Obras geridas em planilhas, atrasos recorrentes, desperdícios de materiais e a ausência de dados confiáveis seguem como marcas registradas de um setor que resiste à transformação digital — e cultural.

Mas para que a construção civil finalmente entre no século XXI não basta digitalizar processos, é preciso mudar a forma como o setor enxerga eficiência, inovação e diversidade.

Um dos primeiros passos é abandonar a ideia de que tecnologia é custo. Quando bem aplicada, a inovação é o principal caminho para aumentar a produtividade e garantir mais previsibilidade nas entregas — algo crítico para investidores, incorporadoras e clientes finais. Modelos BIM, sensores conectados por IoT, plataformas de gestão de obra e dados integrados permitem prever atrasos, controlar orçamentos com mais rigor e até antecipar riscos estruturais.

Outro ponto essencial é a inclusão de novos perfis de liderança, especialmente das mulheres. A construção civil ainda é marcada por uma cultura masculina e hierárquica, mas a presença feminina vem crescendo e mostrando que diversidade não é só uma questão de justiça social — é também um diferencial competitivo. Lideranças femininas tendem a trazer olhares mais colaborativos, foco em processos e uma escuta ativa que impulsiona a inovação. É nesse contexto que surge uma nova geração de empresas lideradas por mulheres que não apenas constroem obras, mas também reconstroem modelos de negócio, relações de trabalho e propósito.

Também é preciso enfrentar a fragmentação da cadeia. A construção civil envolve uma enorme rede de fornecedores, prestadores e subempreiteiros, o que dificulta a padronização de processos e a adoção de tecnologias em escala. Mas o que hoje é visto como obstáculo pode ser a chave para criar ecossistemas mais ágeis, colaborativos e inteligentes, com apoio de construtechs e proptechs que atuam em nichos específicos para resolver problemas reais.

O futuro do setor não será definido por quem constrói mais rápido ou mais barato, mas por quem entrega com mais inteligência, sustentabilidade e previsibilidade. E isso só será possível com dados no centro da operação, equipes diversas liderando projetos e tecnologia conectando os elos de uma cadeia ainda analógica.

Entrar no século XXI não é uma questão de tempo, é uma questão de decisão. E quem decidir agora, sairá na frente.

*Chief Sales Officer da We Are Group, empresa especializada na execução de ambientes corporativos e comerciais de alto padrão. Mais informações no site

“Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Hoje em Dia”.

Fonte: Hoje em Dia

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