Alguns dos suportes que o app Cecí oferece – Foto: Divulgação
O aplicativo Cecí, desenvolvido pela WeCancer, agora oferece suporte digital completo e gratuito para pacientes com câncer de estômago e suas famílias. A iniciativa, que começou nesta quinta, 4, foca em levar apoio multidisciplinar com nutricionistas, psicólogos e profissionais de enfermagem, especialmente para as regiões Norte e Nordeste do Brasil.
O lançamento atende à urgência de 7,4 mil novos diagnósticos anuais de câncer gástrico, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Destes, 5,6 mil casos ocorrem no Nordeste e 1,8 mil no Norte, onde a doença é o segundo tipo de câncer mais comum entre homens.
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O câncer de estômago, muitas vezes diagnosticado tardiamente no Brasil, em 70% dos casos em estágio avançado, exige um acompanhamento médico contínuo que pode ser um desafio para quem vive em locais distantes dos grandes centros urbanos. Estima-se que até 80% dos pacientes no país precisam viajar para receber tratamento, gerando custos elevados e desgaste físico e psicológico.
Reduzindo distâncias e custos
A inspiração para o aplicativo não é apenas tecnológica, é profundamente humana. César Filho, cofundador e CEO da WeCancer, transformou a dor de perder sua mãe para o câncer em uma missão de vida. “Eu vou pegar toda essa dor que eu tô tendo e vou fazer brotar uma flor”, conta, em entrevista ao Portal A TARDE.

César Filho, cofundador e CEO da WeCancer | Foto: Isabela Cardoso | Ag. A TARDE
O Cecí busca resolver esse problema atuando como um “facilitador” para comunidades inteiras. A plataforma foi projetada para expandir o cuidado para além do consultório do oncologista, permitindo que os pacientes tenham acesso a outros especialistas sem precisar de longas viagens, que muitas vezes resultam em interrupções no tratamento.
O CEO destacou a missão da empresa: “A gente quer muito contribuir para dar mais sustentabilidade financeira para o sistema e conseguir apoiar os pacientes do SUS, da rede privada e democratizar o acesso à saúde”.
Acessibilidade digital e o Point of Care
O oncologista Dr. Thiago Jorge explica que a estratégia da WeCancer foca em superar as barreiras da inclusão digital. Em vez de criar um sistema totalmente novo e desconhecido, o Cecí se integra a ferramentas que os pacientes já usam.
“A gente sempre prioriza com que os pacientes possam utilizar, por exemplo, mensagens de áudio, porque a gente tem uma grande gama de pacientes analfabetos no Brasil”, pontua.
Ele também aponta a questão dos dados móveis, muitas vezes caros e limitados, fazendo com que os pacientes priorizem aplicativos incluídos em pacotes pré-pagos, como o WhatsApp.
“Ao invés de tentar trazer esse paciente para um sistema outro, a gente se incluir nesses que eles já usam, que eles já têm familiaridade e, consequentemente, assim, eles acessam a gente de uma maneira muito mais fácil”, afirma.
Barreiras em tecnologias
O Dr. Jorge também aborda o conceito de “point of care”, que permite a realização de exames ou procedimentos em locais mais próximos do paciente, com o uso de aparelhos portáteis que são pequenos e potentes. Ele destaca que, embora a tecnologia para isso tenha avançado, o custo ainda é uma barreira no Brasil.

Câncer de estômago | Foto: Reprodução | Instituto Arlindo Gusmão de Fontes
“A gente já tem alguns aparelhos portáteis no Brasil, um dos grandes problemas ainda é o preço. Apesar deles serem mais baratos do que os aparelhos grandes que a gente vê nas clínicas, ainda é um aparelho bastante caro e para o nível na saúde no Brasil, quanto a gente consegue gastar em saúde, ainda é bem inviável”, pontua.
O câncer gástrico no Brasil
O oncologista ressalta a importância de entender as especificidades do câncer de estômago no Brasil, que tem diferentes perfis dependendo da região, em parte devido a fatores socioeconômicos e à prevalência da bactéria Helicobacter pylori.
O tratamento de água e saneamento básico, por exemplo, ajudaram a reduzir os casos de câncer de estômago relacionados a essa bactéria. No entanto, “em países como o Brasil ainda é bastante alta a taxa do Helicobacter pylori”, observa o médico.
“Cada vez mais a gente vem descobrindo que o câncer de estômago tem nome e sobrenome, nem todo câncer de estômago é igual e os tratamentos podem variar. Quando a gente fala de prevenção de tumor de estômago, e na verdade de toda prevenção de tumor, para a gente conseguir criar uma política de saúde pública para aquele tumor, o ideal é que aquele tumor seja muito comum na população”, destaca o oncologista.
O especialista ainda explica que o aumento recente de um tipo de câncer de estômago e esôfago tem relação com o estilo de vida ocidental, marcado por obesidade e refluxo.
Em vez de focar em rastreamento em massa, a abordagem no Brasil se concentra em educar os pacientes sobre os riscos e os sintomas, como perda de peso sem motivo, queimação e empachamento. “Se a pessoa tem sintomas, a gente pede para fazer uma endoscopia, para ver se tem alguma alteração ou não de risco”, esclarece o Dr. Jorge.
Fonte: A Tarde